quinta-feira, 19 de julho de 2007

Viva e deixe morrer

Este texto foi escrito em 16/05/2006 quando perdí minha última e querida avó. Hoje, posto ele aqui pra como uma forma de homenágem a todas as vidas que se foram na tragédia aérea de terça-feira última. Que todos vocês estejam ai, no céu, juntos a minha querida avó. E que todas as famílias encontrem luz suficiente para sair destas trevas que suas vidas se tornaram...



Viva e deixe morrer

QUANDO A MORTE TOCA A NOSSAS VIDAS E NOS LEMBRA QUE ELA NUNCA VAI NOS DEIXAR.

Hoje tive uma noticia desagradável que acabou com meu dia. Perdi minha última avó. Mãe do meu pai, minha avó sofria a mais de dois anos dos maus de Alzheimer e Parkinson e seu falecimento era apenas uma questão de tempo.

Mas por que, se já tínhamos como certa sua perda, ficamos tão tristes ao vê-la partir? Eu pessoalmente acredito que, ao nos depararmos com a morte, mesmo que uma morte anunciada, percebemos quão inevitável ela é. Percebemos que a vida é um momento e que, se não fizermos bom uso dela, poderemos ver este momento passar como quem perde um trem na estação.

Acho que minha avó teve uma boa vida. Foi casada com um homem visionário e enfrentou o mundo pra viver com ele. Meu avô a conheceu na cidade de Patrocínio, Minas Gerais, e, como era um homem sem posses, eles casaram fugidos das famílias. Imagino como deve ter sido, em plenos anos 40, um casamento escondido de um casal do interior de Minas. Com certeza uma batalha.

Mas meu avô era um cara de fibra, elegeu-se Deputado Federal, quase foi Governador do Estado, ajudou a escrever a atual legislação trabalhista, acumulou posses, perdidas depois por casualidades de seus sonhos, e formou uma grande e bela família.

E minha avó, como entra nessa? Entra sendo o pilar. Sendo o porto seguro. Outro dia ouvi uma releitura da velha frase: “Por traz de todo grande homem há sempre uma grande mulher” – que achei fantástica. Ela diz: “Ao lado de todo grande homem há sempre uma grande mulher”. E foi isso que minha avó foi para ele. Uma grande mulher que acreditou em um jeca maluco e que, com ele, construiu seus sonhos. Viveu intensamente, enterrou alguns de seus filhos, viu nascerem seus netos, depois seus bisnetos e, por muito pouco, não alcançou um tataraneto.

Voltando à morte, propriamente dita, fico pensando como ela nos maltrata. Todos sabemos que ela está sempre ao nosso lado. Todos sabemos como é fácil morrer e como é difícil viver. Todos sabemos que nossos entes queridos, familiares, amigos, amores, partirão um dia. Mas nunca estamos prontos pra isso.

Acho que nunca estamos prontos porque sempre achamos que vamos antes deles. Eu sei que meus pais irão morrer um dia. Sei que, pela lei das probabilidades, eles irão antes de mim. Mas, mesmo assim tenho certeza que nunca estarei pronto para este dia. Tenho certeza que, caso ele realmente chegue e eu realmente o veja, ele será um dos piores dias da minha vida. O dia em que a morte me lembrou que ela está sempre ao nosso lado. Como está sendo o dia de hoje.

Desejo que minha queria avó descanse em paz. Que leve com ela as boas lembranças de sua grande família e que nos espere para uma barulhenta reunião daqui a alguns anos. Dela, guardo boas recordações. De seu carinho, de sua braveza, de seu rosto rosado, de pele e cabelos brancos como neve. De seu gosto pela música e pela política e de sua casa de vó. Uma casa cheia de histórias de minha infância. Uma casa com cara de família. De brigas e reencontros

4 comentários:

Unknown disse...

Sei bem como é td o q disse...
a morte é inevitável
mesmo qdo anunciada...
a minha avo aconteceu o mesmo, mas ela nunca perdia a alegria de viver...
a ultima vez q a vi, ela estava no carro comigo e por meu passado de batidas, ela segura meu braço e me diz assim: " filha, eu to morrendo, mas de batida de carro nao, por favor" Ninguém desiste, mesmo qdo chega a hora

Davos disse...

AUhiAHa ... sua vó era uma pessoa sábia amore!!!

Juliana Ferreira disse...

A morte nos lembra que ninguém é eterno e que a vida é uma só (pelo menos esta vida). Penso sempre e muito nessa coisa toda que é nossa passagem pela Terra, talvez seja por isso que tenho como lema para mim ser feliz agora. Amanhã não dá, ontem já foi, mas meu presente só a mim pertence. E como é bom este exercício de ser e fazer feliz. Se tudo se acabar amanhã, daqui alguns minutos ou daqui alguns anos, será a mesma idéia que vão ter e guardar de mim: ela era muito feliz e me fazia feliz. Realmente é muito mais difícil viver do que morrer, mas se fosse mais fácil do que isso acredito que não teria a menor graça.

Davos disse...

Afff... vou publicar seu comentário como texto Ju ... merece!!! ... Bom, minha opnião sobre a morte é sempre aquela ... por mais que a gente ache que está pronto para encará-la, ela sempre nos atropela como um caminhão desgovernado ... se trágica como estas de recente data então ... aí as trevas realmente cobrem tudo!!! mas um dia o sol brilha denovo, e, de quem vai, fica a lembraça boa e a saudade... vamos todos nos fazermos felizes!!! SEMPRE!